Core Energetics
A Core Energetics é uma abordagem psicoterapêutica desenvolvida por John Pierrakos, na década de 1970. Pierrakos foi aluno e colaborador de Wilhelm Reich e co-criador da Análise Bioenergética, junto com Alexander Lowen. Ao agregar os princípios da filosofia do Pathwork, desenvolvido por sua esposa Eva Pierrakos, aos seus estudos e prática clínica, John criou a Core Energetics.
Para a Core, o indivíduo é concebido enquanto uma Unidade Psicossomática, ou seja, seu corpo e mente são funcionalmente idênticos. O que ocorre na mente tem um reflexo no corpo e vice versa. A experiência humana se dá tanto no nível mental, quanto nos níveis emocional e corporal. A articulação entre estas diferentes dimensões do ser é concebida a partir da compreensão dos processos energéticos que se manifestam tanto no corpo, quanto na mente e emoções. Nossos traumas e feridas infantis se apresentam em bloqueios do fluxo energéticos em todo este sistema. A abordagem terapêutica da Core, então, inclui tanto o trabalho com a fala, que permite uma compreensão global da dinâmica psíquica e a reelaboração dos sentidos e afetos da história pessoal, quanto o trabalho com o corpo que, por meio de técnicas específicas de mobilização e exercícios corporais com movimento, voz e respiração, buscam restabelecer um maior fluxo energético no sistema, centrando e ancorando a consciência na realidade corporal.
Tendo como base esta premissa, um dos objetivos primordiais desta abordagem consiste em auxiliar o cliente no reconhecimento, aceitação e integração dos aspectos de sua personalidade. A Core nos encoraja olharmos de forma mais honesta para nós mesmos, nos compreendendo e aceitando para além dos ideais cultivamos pela sociedade, nossas famílias ou pela autoexigência. A psicoterapia em Core Energetics envolve o trabalho com a psique, o corpo e o sistema energético em três aspectos básicos da personalidade: a máscara, o eu inferior e o eu superior.
O conceito de máscara diz respeito às estretégias de defesa que forjamos por meio da criação de um “eu” de fachada que apresentamos ao mundo. Nossas máscaras procuram alcançar uma imagem idealizada de como deveríamos ser, pautadas na ânsia pela perfeição a qualquer custo. Acreditamos, consciente ou inconscientemente, na ideia de que se formos bons, inteligentes, sociáveis, poderosos, seguros o bastante, as coisas em nossa vida vão dar certo, as pessoas irão nos amar, teremos êxito. Esta obstinação nos coloca num estado de tensão e contínuo esforço para atingir esta meta de forma que não conseguimos relaxar e permitir que nossas potencialidades se expressem autêntica e espontaneamente. Quando vivemos a vida a partir de nossas máscaras, experimentamos relações superficiais, embotadas, sem criatividade, fluxo e prazer. Na máscara, ficamos congelados em padrões e modos de ser rígidos e sem vida.
Dentre todos os aspectos de nossa personalidade que procuramos esconder por baixo de nossas máscaras, um deles ganha destaque por ser verdadeiramente destrutivo: o eu inferior. Ele é constituído por sentimentos, atitudes, pensamentos, crenças, impulsos, desejos relacionados à crueldade, insensibilidade, medo, ódio, autoboicote, negatividade, isolamento, etc. Em suma, o eu inferior é um “não” para a vida, para nós mesmos, para os outros, o mundo e a realidade. Ele é uma parte de nós mesmos que está comprometida com a destruição. Por mais que não tenhamos consciência de sua existência ou que o neguemos, o eu inferior acaba por se manifestar em nossas vidas de maneira inconsciente provocando dor e sofrimento para nós e para aqueles que nos cercam. Apesar de toda a negatividade que contém, o eu inferior possui mais autenticidade e vitalidade do que a camada de consciência da máscara.
Por outro lado, o eu superior, representa uma dimensão mais profunda de consciência e energia. Ele é aquela parte de nós mesmos que pode fluir e se expressar livremente, sem resistências em direção à união, ao prazer e à expansão. Na dimensão do eu superior, somos plenos de aceitação para com todos os aspectos de nossa personalidade, ainda que sejam imperfeitos. Ele é um “sim” para o fluxo da vida, da forma com que ela se apresenta no aqui e agora. Experimentamos o eu superior quando estamos em contato com nossos atributos autenticamente positivos e construtivos como a capacidade de se entregar ao prazer e ao amor, a nossa força e poder positivos, nossa sabedoria, criatividade, beleza, etc. Energeticamente, o eu superior se expressa em fluxos de energia de alta frequência de vibração, daí o termo “Higher” Self.
São os atributos do eu superior que fazem com que o processo de cura e transformação interna possa acontecer em um processo psicoterapêutico. A partir da conexão com a coragem de encarar a verdade sobre quem somos, temos condições de identificar e abrir mão de nossas máscaras. Por meio da aceitação honesta de nós mesmos, é possível reconhecer e transformar os aspectos do eu inferior. Este caminho abre espaço para que consigamos sustentar em nossas vidas e em nossos corpos uma verdade mais profunda e autêntica de nós mesmos. Isto significa ampliar a capacidade de suportar um fluxo maior de energia em todo o sistema e, dessa forma, ampliar também a capacidade de enfrentar as dores e infelicidades a que todos nós estamos sujeitos e igualmente nos permitir à entrega ao amor e ao prazer que a vida oferece.